quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um capítulo da minha vida...


Hoje, vou falar sobre um assunto delicado, a diabetes da Analu. Resolvi escrever sobre isso porque ontem estava ajudando ela a fazer uma tarefa de casa, tinha que recortar umas figuras e folheando a revista "Crescer", vi uma matéria sobre diabetes infantil, li e detestei. As pessoas falam desse assunto como se fosse uma coisa muito ruim, me senti mal lendo aquilo, e, ao mesmo tempo com vergonha. Li o depoimentos de mães que sofrem muito porque têm filhos diabéticos, que quando foi diagnósticada a doença foi o pior dia da vida delas. Senti vergonha, porque comigo não foi assim, não penso assim, não sou assim, mas a vergonha logo passou, comecei a ficar indignada e pensei a noite inteira sobre isso, resolvi escrever aqui detalhes que aconteceram comigo, coisas que eu pensei e senti quando descobri que minha filha tinha diabetes. Nunca escrevi, nem falo muito sobre isso porque não gosto de lembrar desse momento, mas hoje senti necessidade de dividir isso com vocês, e para que as pessoas lidem com isso de uma forma diferente.
Descobrimos que Ana tinha diabetes no dia 27 de Novembro de 2008, dia de Nossa Senhora da Medalha milagrosa, estava em Uberaba-MG, na casa da minha sogra, fui para lá levar ela ao médico porque achava ela muito magra. Tinha uma coisa me incomodando, ela bebia muita água e fazia muito xixi, eu reclamava daquilo e me falavam que estava muito quente, e, era bom ela tomar água. Mas meu coração dizia que tinha alguma coisa errada. Ela fez os exames de sangue 9:00hs da manhã, 12:00hs a médica me ligou e pediu que eu levasse Analu ao hospital, que já tinha uma equipe esperando a gente lá, fiquei até tonta. Perguntei o que estava acontecendo, ela me disse que falaria comigo pessoalmente lá no hospital. Aquilo me deu uma aflição tremenda.
Corremos para lá eu e minha sogra, estávamos sós. Chegando lá, realmente tinha uma equipe esperando, tiraram ela dos meus braços e levaram para a UTI, ela chorava e gritava muito: mamãe, mamãe... Aquilo foi uma tortura, porque não deixavam a gente entrar. Foram os piores dez minutos da minha vida. Ainda escutei duas enfermeiras comentando: Nossa, tão pequenininha e deu HI. Eu sentei, pensei: pronto a minha filha tem uma doença rara, isso ai deve ser sigla de alguma coisa, e eu nem sei o que é. A essa altura na minha cabeça, cancêr era a melhor das possibilidades.
Quando a médica saiu me levantei, ela sentou do meu lado, e disse: Mãe, a sua filha foi diagnósticada com diabetes. Eu soltei bem alto: Ai mulher, graças a Deus! Ainda bem que não é HI....(rsrsrsrs) Ela arregalou os olhos pra mim, admirada, olhei pro lado, minha sogra estava aos prantos, eu disse: "D. Lúcia, ela vai viver". Pra mim era só isso que importava, minha filha vai viver, essa doença aí eu conhecia. Entrei na sala da médica sorrindo, ela foi me explicar o que tinha acontecido com Ana, e a palavra que define o que eu senti naquela hora é "alívio". Ela disse: "não tem cura, mas tem tratamento e ela vai ter uma vida normal", aí beleza, pra quê desespero, eu estava feliz, dos males o melhor. Entrei na UTI firme e forte, abracei minha filha e disse pra ela: "vai ficar tudo bem, mamãe está aqui". E fiquei. Fui a única mãe até aquele momento naquele hospital que ficou o tempo inteiro na UTI, me arrumaram uma poltrona e improvisaram para que eu permanecesse lá. A médica concordou com o meu pedido, pois, nas palavras dela eu estava estável.
Naquele momento eu percebi que eu era fundamental, como mãe, na recuperação da minha filha, eu não queria passar pra ela nenhum medo, nenhuma insegurança, nenhuma tristeza. Pensava no psicológico dela, que nada daquilo, ficasse como um trauma. Quando as enfermeiras vinham com aquelas injeções imensas, ou furavam os dedinhos dela, eu fazia ela olhar pra mim: "olha no meu olho filha, mamãe está aqui e tudo vai passar, já vai passar", ela confiava em mim e fazia sim com a cabecinha.
Não chorei nenhum dia, não me abalei, não sofri, não me deixei ter tempo para isso, porque nenhuma dessas coisas me seria útil naquele momento, fui prática, pedi logo para a enfermeira me ensinar como fazer a injeção, como furar o dedo...; com a nutricionista, como seria a alimentação; com a endocrinologista como seria o controle. Era muita coisa nova, e, eu tinha que aprender rápido, a vida da minha filha estava nas minhas mãos.
Sofrer pra quê? Agir, fazer. Não pensem que eu acho bom que Analu tenha uma disfunção (não falo doença, minha filha não é doente, somente um órgão dela não funciona como deveria), mas também não acho ruim, pra mim ruim é o que não tem solução. Temos que ter consciência, não é saber, é consciência mesmo, de que nossos filhos são nossos espelhos, se somos fracos, eles serão fracos; se lidamos bem com as mudanças, eles também; se estamos alegres, eles idem.
Então na frente da Ana Luiza eu sou o melhor que posso ser, as vezes mais do que consigo ser, sou mãe!... amanhã, posto outro capítulo...rsrsrsrs.
P.s. : HI, é uma diminuição de higt, alto, em inglês. Os medidores de glicose, contam até determinado número, 500 por exemplo, além disso, aparece na tela, HI!

3 comentários:

  1. Sou sua mãe, e tenho orgulho disso.Vc com toda sua força e alegria me move.

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  2. Adorei o texto... a gente como jornalista devia fazer uma matéria que preste sobre o assunto. Não como se fosse um drama.. mas bem final de novela de Manoel Carlos.. uma superação!

    beijooo.. amos as duas...

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  3. rsrs.. vc sempre me surpeende amiga!!!
    jamais tinha parado pra pensar dessa maneira.
    esplendorosa visão de vida vc tem...
    que bom se sua filha se tornar uma pessoa como vc o mundo agradece...
    vida longa a vc e a lú!!!
    andre nascimento the-PI.

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